Num dia quente de Julho, em 2005, a vida prega-lhe uma partida. A família tinha ido de férias para terras onde o sol brilha mais horas e o dia iniciara com um passeio calmo. Depois de uma tarde bem passada, regressam à praia e o Rui decide dar um último mergulho. Recorda-se vivamente do calor que se fazia sentir. Ao regressar à tona da água, uma onda quebra sobre a sua cabeça. Um momento turvo e a sua vida muda completamente.
Um momento de confusão e um pensamento recorrente sobre a esposa e os filhos. Que se estava a passar? Não os podia deixar sós. O Rui recorda-se de falar com a esposa e depois… a escuridão. Pura e total escuridão. O acordar aconteceu 3 meses depois no Hospital Pedro Hispano. Afirma que “foi como nascer de novo”, num misto de dúvida e medo. Ao tentar comunicar, apercebeu-se que estava entubado e os seus olhos procuraram um rosto familiar para encontrar conforto. Sentiu-se imobilizado e os olhos da esposa anteciparam o inevitável: o Rui estava paralisado do pescoço para baixo. Durante os 6 meses em que esteve internado, submetido a cirurgias e reabilitação, destaca como momento mais marcante a primeira vez que os filhos o visitaram. Como se explica este infortúnio aos filhos? Não se explica e o Rui ficou em silêncio. Foi um período de “exame à consciência”, em que o Rui reviu toda a sua vida e tentou adivinhar o futuro. Para ele, tudo parecia negro: “estou morto e isto é apenas uma encadernação”. Era uma pessoa ativa e isso acabara, com o acidente. Não via hipóteses de recuperação e nem sequer tinha forças para lutar. Depois do período de internamento, a esperança de recuperação tornou-se ínfima quando a avaliação médica concluiu que o Rui nem iria conseguir segurar a cabeça. Haveria mais para piorar? O foro emocional do Rui estava cada vez mais derrotado e surgem as primeiras ideias de desistir. Entre repulsa de si próprio, sensação de impotência e olhares de pena, a ideia de não poder cuidar dos filhos, não poder beber um copo de água com as próprias mãos e poder partilhar um carinho eram imagens demasiado fortes para aceitar. O Rui tinha um longo caminho pela frente, mas não estava preparado para iniciar a viagem. No início de 2012, a FELICITY entra na vida do Rui, com o objetivo de potencializar a reabilitação, no conforto do seu lar. Acompanhado desde início nas áreas de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, o Rui abre as portas da sua casa a dois elementos desta equipa que, para além de serem os seus terapeutas, ficam seus amigos. “Boas conversas a par do tratamento” é a definição que o próprio dá às sessões de intervenção. O futuro que se antevia negro passa, então, a ter alguma cor com as ideias e estratégias que a equipa vai apresentando em cada deslocação. Num trabalho transdisciplinar que se tem revelado um desafio permanente, a equipa começou por determinar objetivos simples e concretizáveis que motivassem o Rui. Desde desenvolvimento de força muscular à introdução de ajudas técnicas, a intervenção tem focado a qualidade de vida e promoção de autonomia, mas com a contribuição fundamental do Rui e da sua família. Hoje, passado sensivelmente um ano, muitos foram os objetivos atingidos e, mais ainda, os objetivos desenvolvidos. O Rui, aquele indivíduo que não se esperava que fizesse sustentação da cabeça, faz a sua higiene pessoal com ajuda mínima, já consegue atirar uma bola e agarrou recentemente a oportunidade de adaptar um carro para as suas deslocações. Coisas aparentemente simples, mas que tomam toda a importância, quando a vida nos prega uma partida e nem a esperança parece estar do nosso lado. Hoje, o Rui é uma pessoa esperançosa, desafiadora e ativa. Ainda recorda aquele dia fatídico e, provavelmente, irá recordá-lo para sempre. Mas o futuro? Esse, só a ele pertence. Levem este exemplo e sejam felizes. Carpe diem! Quanto a nós FELICITY, prometemos voltar com a parte III, desta história. Conheça a nossa forma de trabalhar…
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FelicityTerapias de Reabilitação Arquivo
Outubro 2018
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